Com o fim do Mundial de futsal, finalmente pude fazer minha estréia nesse blog. Para meu primeiro post, escolhi o duelo entre Brasil e Itália.
O jogo da quadra deixou um certo sabor de frustração. Sem querer entrar na questão das naturalizações ("It's a joke", disse um fotógrafo gringo no Centro de Imprensa), você fica esperando um confronto de escolas, tipo o que aconteceu na final, contra a Espanha.
Brasil x Brasil Entre Aspas foi legal de assistir, mas principalmente pelos nervos à flor da pele e a briga no intervalo. Nada que chegue perto da qualidade do jogo, do futebol de campo, no Torneio da França, em 1997.
Esta competição reunia também o país-sede e a Inglaterra, e tinha a função de servir como teste para a Copa do Mundo de 1998. A Copa das Confederações foi disputada no final daquele ano, mas era só um torneio perdido no calendário, sem a importância de hoje.
O Brasil empatou em 1 a 1 com a França na estréia. Foi o jogo do gol mítico do Roberto Carlos. Na seqüência, os comandados de Zagallo pegaram a Itália, numa partida épica.
Sim, já houve um tempo em que a seleção brasileira empolgava. E sim, já teve uma época em que jogávamos, no mesmo ano, contra ingleses, franceses e italianos - e não enfrentávamos só Tailândia, Argélia e Hong Kong.
O jogo de 8 de junho foi disputado em um Gerland com obras inacabadas. Atrás dos gols, eram vistos tapumes com imagens de craques como Rivellino.
Dentro de campo, a Itália começou massacrando e, logo aos seis minutos, Alessandro Del Piero abriu o placar, de cabeça.
Aos 23, Demetrio Albertini cobrou falta e surpreendeu Taffarel, que ainda arrumava a barreira. A bola ainda desviou em Aldair.
O Brasil demorou, mas entrou na partida. Aos 35, conseguiu diminuir. Roberto Carlos mandou uma bomba, que desviou no carequinha Attilio Lombardo, enganando Gianluca Pagliuca.
Marcação mítica. E pensar que no mesmo jogo,
o Célio Silva operou o Del Piero...
No segundo tempo, a Itália fez 3 a 1 com um pênalti cobrado por Del Piero. Aldair havia derrubado Filippo Inzaghi dentro da área.
Já aos 27, um magro Ronaldo deixou Billy Costacurta no chão e fez um golaço.
Quem fazia boa partida era Denílson, com aquela correria que ainda conseguia enganar a gente.
Ele foi bem neste dia, mas quem viu Elivélton e Denílson está vacinado para Robinho e afins.
E para quem não sabe porque Romário é o gênio da grande área, basta assistir ao vídeo com o lance do gol de empate, aos 39. Um dos mais bonitos de sua carreira, que mostra a sua famosa explosão e a habilidade. O lance é magnífico e levou o narrador chinês à loucura, um Éder Luiz².
Quando estas seleções se encontrarem no amistoso do início de 2009, as formações serão totalmente diferentes. Acredito que só o Cannavaro deva estar em campo. Será que ainda teremos Dunga no banco?
BRASIL - Taffarel; Cafu, Célio Silva(!), Aldair e Roberto Carlos; Mauro Silva (Flávio Conceição), Dunga, Leonardo e Denílson; Romário e Ronaldo. Técnico: Zagallo.
ITÁLIA - Pagliuca; Panucci, Cannavaro, Costacurta e Maldini (Di Livio); Di Matteo, Albertini, Dino Baggio (Fuser) e Lombardo; Vieri (Inzaghi) e Del Piero. Técnico: Cesare Maldini.
Cartões Amarelos: Mauro Silva, Dino Baggio e Costacurta.
A relação dos outros jogadores inscritos pelas duas seleções no Torneio da França é a seguinte:
Itália: Peruzzi, Nesta, Torrisi, Benarrivo, Zola, Casiraghi e Chiesa.
Brasil: Carlos Germano, Zé Maria, Gonçalves, Márcio Santos, Zé Roberto (como lateral), César Sampaio, Giovanni, Djalminha, Edmundo e Paulo Nunes.
TORNEIO DA FRANÇA
Resultados do Torneio da França, realizado entre 3 e 11 de junho de 97. A Inglaterra foi campeã e o Brasil, invicto, terminou em segundo.
França 1 x 1 Brasil (jogo do gol antológico do Roberto Carlos)
Inglaterra 2 x 0 Itália
França 0 x 1 Inglaterra
Brasil 3 x 3 Itália
Inglaterra 0 x 1 Brasil
França 2 x 2 Itália
Classificação: Inglaterra (6 pts), Brasil (5), França e Itália (2).
Artilheiro: Del Piero, seis gols.
terça-feira, 21 de outubro de 2008
No tempo que Zola jogava no Andaraí
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quinta-feira, 16 de outubro de 2008
O dia em que Three Degrees deram o tom em Old Trafford
Neste domingo, o Manchester United recebe o West Bromwich Albion no lendário estádio de Old Trafford em mais uma partida pelo Campeonato Inglês. Provavelmente o time do técnico Alex Ferguson vencerá com facilidade e subirá mais um pouco na tabela do torneio, que, mais cedo ou mais tarde, voltará a ter os próprios Red Devils se revezando nas quatro primeiras posições com Arsenal, Chelsea e Liverpool.
Mas houve um tempo em que a liga da terra da rainha era mais equilibrada e, como acontece mais ou menos no Brasileirão, uns dez times chegavam com chances de levantar o caneco. Conquistando-o ou não, muitas dessas equipes são lembradas até hoje, por diversos motivos.
O West Brom é lembrado exatamente por uma partida contra o Manchester United em Old Trafford, há exatos 30 anos. Na verdade, quase 30 anos, já que foi disputada em 30 de dezembro de 1978. E na verdade, não só por esse jogo, mas por toda a temporada 1978-1979, na qual o time terminou na terceira colocação.
O jogo em questão terminou com o placar de 5 a 3 para os visitantes. Pelo United, então dirigido por Dave Sexton, marcaram Brian Greenhoff, num chutaço de fora da área após rebote da defesa em cobrança de escanteio; o zagueirão escocês Gordon McQueen, de cabeça; e o norte-irlandês Sammy McIlroy, após roubada de bola na lateral da defesa dos Baggies.
Já pelo West Brom, foram dois do bigodudo meia Tony Brown, um de Len Cantello, um de Laurie Cunningham e um de Cyrille Regis.
O time do meio-oeste já contava com um meia-armador promissor, Bryan Robson, que ao longo dos anos 80 viria a ser o cérebro do - ironia do destino - Manchester United e do English Team.
Embora jogasse muita bola, não era Robson quem chamava mais a atenção na equipe, mas sim o trio formado por Cunningham, Regis e o lateral Brendon Batson, todos negros.
Talvez hoje possa parecer impensável, mas até os anos 70 era bastante raro encontrar jogadores negros atuando no futebol inglês. Entre os titulares então, daria para contar nos dedos de uma mão. Mas quando o então desconhecido técnico Ron Atkinson contratou Batson para fechar o trio e os apelidou de "Three Degrees", em referência a um popular grupo vocal feminino americano de soul e r&b da época, fez uma revolução no esporte em um período explosivo no Reino Unido.
O panorama social, político e cultural das ilhas britânicas da virada dos anos 70 para os 80 incluia o movimento punk, que estourou um ano antes; a chegada ao poder da polêmica Margaret Tatcher, um ano depois; e os constantes choques nos bairros da periferia de Londres, habitados maciçamente por imigrantes vindos das ex-colônias britânicas nas Índias Ocidentais (Caribe), que protestavam exigindo melhores condições de vida e eram fortemente reprimidos pela Polícia. Estes distúrbios eram retratados em letras de músicas de bandas como The Clash, além das birraciais The Specials, The Beat e UB40.
Cyrille Regis era um imigrante. Nascido na Guiana Francesa, acabou indo parar na Inglaterra com sua família meio por acaso, ainda na infância. Centroavante de grande força física e chute muito potente, também sabia usar bem a técnica sempre que necessário, como no passe de calcanhar para Cantello marcar o segundo do West Brom contra o Man United. Depois de defender vários outros clubes e a seleção inglesa, Regis virou técnico.
Brendon Batson também era imigrante, nascido na ilha de Granada, e veio para o Reino Unido com sua família aos nove anos. Lateral-direito de pouca técnica, mas muita raça, fez mais sucesso depois que abandonou os gramados, tornando-se presidente da Associação de Jogadores Profissionais inglesa.
Já Laurie Cunningham era o único nascido em Londres. Ponta-esquerda de drible fácil e muita velocidade, exibia incrível facilidade para passar pelos adversários. Acabou com a defesa do Valencia em um jogo pelas oitavas-de-final da Copa da Uefa naquela temporada.
Antes, em abril de 1977, tinha se tornado o primeiro negro a defender uma seleção inglesa, ao jogar (e marcar) pela sub-20 numa partida contra a Escócia em Sheffield (em novembro do ano seguinte, o lateral-direito Viv Anderson, do Nottingham Forest, acabou sendo o pioneiro na seleção principal, num amistoso contra a Tchecoslováquia, em Wembley).
A temporada 1978-1979 foi a última de Cunningham com os Baggies. Ao final dela, iria para o poderoso Real Madrid, por quase um milhão de libras, uma fortuna para a época. Pelo novo clube, conquistaria a liga espanhola em 1980 e seria vice-campeão da Copa dos Campeões de 1981 após perder a final para o Liverpool, no estádio Parque dos Príncipes, em Paris.
No entanto, a partir daí, problemas disciplinares e de lesão fariam sua carreira perder o rumo. Cunningham defenderia ainda Sporting Gijón, Olympique de Marselha, Leicester, Wimbledon (surpreendente campeão da Copa da Inglaterra em 1988), Charleroi da Bélgica, Rayo Vallecano e até mesmo o Manchester United, por empréstimo.
Em 15 de julho de 1989, semanas depois de levar o Rayo Vallecano à primeira divisão espanhola, Cunningham morreria em um acidente de carro em Madri, aos 33 anos.
No entanto, o legado dos "Three Degrees" ingleses já estava espalhado pelos gramados britânicos, apesar das vergonhosas manifestações racistas presentes até hoje nos estádios do país.
Em 2000, Regis, Cunningham e Batson viraram tema do livro "Samba in the Smetwick End", de Dave Bowler e Jas Bains. Há ainda um vídeo com os gols e melhores momentos da partida de Old Trafford no Youtube, a última desde então em que um visitante marcou cinco gols contra o Manchester United em seu estádio.
Na foto, da esquerda para a direita: Cunningham, Batson e Regis e as "verdadeiras" Three Degrees, vestidas com a camisa do West Bromwich Albion.
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