quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Um escocês que dá dor de cabeça ao Real

A conquista do prêmio Bola de Ouro pelo meia-atacante português Cristiano Ronaldo, do Manchester United, tirou um pouco dos holofotes a guerra verbal entre o técnico do clube inglês, Alex Ferguson, e o Real Madrid, equipe que fez (e faz) de tudo para ter o jogador em seu elenco.

O escocês Ferguson, que não tem papas na língua ao se referir ao Real como o "time de Franco", acusa a equipe espanhola de aliciar o português, e de tornar bastante público o interesse na contratação do jogador, mesmo em um momento em que a janela de transferências está fechada.

No entanto, a rivalidade entre o treinador e o clube espanhol vem de longe. Em 1983, Ferguson levou o Aberdeen, equipe mediana mesmo no futebol escocês, ao título da extinta Recopa Européia contra os merengues, numa final surpreendente em Gotemburgo.

Com o técnico, o Aberdeen viveu sua fase de ouro no início dos anos 80 e, mesmo sem contar com grandes estrelas dentro de campo, derrubou por um breve período a hegemonia dos times de Glasgow, Celtic e Rangers, com três títulos do Campeonato Escocês e outros três da Copa da Escócia.

Já o Real, apesar de chegar à decisão como favorito por sua tradição, não tinha um grande time e vivia uma fase ruim. Depois da conquista do Campeonato Espanhol de 1980, a equipe só voltaria a levantar o título em 1986, com um elenco bastante modificado.

Entre os que foram a campo pelos merengues naquela decisão na Suécia estavam o zagueirão holandês John Metgod, o meia alemão Uli Stielike, além do lateral-esquerdo espanhol José Antonio Camacho. Na frente, a dupla clássica do Real da época, formada pelo ponta Juanito e o centroavante Santillana, exímio cabeceador.

No Aberdeen, os nomes de maior destaque eram o goleiro Jim Leighton, o lateral Willie Miller e o ponta Gordon Strachan.

Na decisão, o time de Ferguson saiu na frente logo aos quatro minutos de jogo, com um gol de Black, mas Juanito, de pênalti, empatou para o Real. O placar não se alterou até os sete minutos do segundo tempo da prorrogação, quando o reserva Hewitt fez o gol do título para os escoceses.

Para os espanhóis, a derrota significou mais uma temporada de jejum em títulos europeus - o último fora a Copa dos Campeões em 1966. Mas pior mesmo foi perder um torneio onde todos os adversários considerados mais fortes já haviam caído bem antes da final.

Primeiro foi o Tottenham, batido ainda nas oitavas-de-final pelo Bayern de Munique. Já os alemães foram eliminados nas quartas, pelo Aberdeen - na primeira proeza de Ferguson naquela temporada -, enquanto na mesma fase, a zebra belga Waterschei tirava o Paris Saint-Germain na prorrogação.

Também nas quartas, o Real passava pela Inter de Milão (freguesa recorrente do time madrilenho nos anos 80), enquanto o Austria Viena fazia um grande favor aos merengues, desclassificando o atual campeão, o Barcelona de Diego Maradona, e impedindo a realização do grande clássico espanhol nas semifinais.

O prestígio conquistado com o título continental não tardou a gerar frutos para Ferguson. Em 1985, ele foi apontado técnico da seleção da Escócia para a Copa do Mundo do ano seguinte, no México, em medida emergencial. O comandante anterior, o experiente Jock Stein, fora vítima de um colapso cardíaco à beira do campo, após um gol de empate dramático dos escoceses contra o País de Gales na última rodada das Eliminatórias.

Em novembro de 1986, "Fergie" foi chamado para assumir o lugar de Ron Atkinson no Manchester United - que àquela altura ocupava a lanterna do Inglês. Vinte e dois anos depois, o escocês continua no mesmo posto. E ainda dá muita dor de cabeça à torcida e aos dirigentes do clube de Madri.

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